“Se no passado a economia condicionou a utilização do meio ambiente, sem se preocupar com a degradação e exaustão de seus recursos, atualmente parece ser o meio ambiente que deve condicionar a economia” (Comune, 1994, p. 45-46).

Pesquisar este blog

XI Encontro da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica

XI Encontro da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica
XI Encontro Nacional da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica (ECOECO) e VII Congreso Iberoamericano de Desarrollo y Ambiente (CISDA) 2015 "Aplicações da Economia Ecológica nas Políticas Públicas Latino-americanas"

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A Sociedade, a Economia e a Floresta, artigo de Cristiano Cardoso Gomes




A estabilidade econômica e as oportunidades comerciais têm ampliado o crescimento do país, o PIB tem crescido a dígitos cada vez maiores. As projeções e cenários e que haja um crescimento da economia de 6,7% ao ano (IBGE 2010). Crescendo a esse ritmo em duas décadas dobraremos nosso PIB.

Por outro lado, a volutabilidade do país tem diminuído com a redução da divida externa, contudo, não se pode dizer que os acontecimentos econômicos externos não podem influenciar na nossa economia, haja vista que a exportação tem sido um dos canais de escoamento da produção.


O Programa Minha Casa Minha Vida, propõe financiar um milhão de casas, a indústria automotiva vendeu 3,14 milhões de carros em 2009 e espera um crescimento de 18,9% em 2010. A indústria da construção civil tem vivido um boom de crescimento, assim como muitos outros setores da economia, além de que, a descoberta das resevas de petróleo do pré-sal põe o Estado em condições de ampliar o investimento e facilitar o crescimento.

Diante desse maravilhoso quadro para o presente e o futuro, estão os consumidores, os que adquiriram sua sonhada casa, realizaram a desejada reforma, a aquisição ou troca de carro. Tudo proveniente de oferta e participação de nossas florestas.

Como a floresta pode contribuir com um carro ou uma casa? Vejamos: O carro ― fabricado em chapas de aço ― necessita de lenha para os altos fornos, e carvão para o ferro-gusa que dá boa liga ao associar-se com o minério; Já a casa, teve seus tijolos e telhas queimados com lenha. Parte dessa lenha e carvão utilizados, veio do plantio e/ou de florestas manejadas ou mesmos de desmatamento.

Enquanto nos saciamos e a popularidade presidencial amplia ― as nossas florestas agonizam ― agoniza por serem usurpadas para gerar energia, matéria e produtos para diferentes seguimentos de consumo e produção.

Não tenho nenhum interesse de propor a parada do crescimento em função de que as florestas estão agonizando, agonizam por causa de uma sociedade que não teve oportunidade de acessar os bens historicamente desejados. Quero apenas registrar que não há desenvolvimento sem floresta, e da forma como vai, corre o risco de ficar sem elas.

Por traz da necessidade de crescimento é importante planejar, estimular e criar políticas que ampliem a oferta de bens florestais para suprir as necessidades de crescimento, e que o uso de lenha e carvão, não seja caracterizado como tecnologias caducas e ultrapassadas, mas, como bens renováveis e sustentáveis.

O crescimento da economia permite investimentos na educação e na cultura, proporciona lazer e bem estar social, isto se bem aplicados. Crescer é importante, contudo, a sustentabilidade está ameaçada, não pelo esgotamento das florestas em um ciclo que dobre o PIB, mas, pelos danos ocasionados pelo mau uso da floresta.

Usar a floresta não é ruim, dependendo da forma que é explorada. Exploração sem manejo, sem planejamento, ultrajando a legislação e desrespeitando o conhecimento empírico, é ruim.

Por outro lado, o processo legislatório de uso das florestas impõe tantas normas, regras e complacentismo ambiental que é mais tranquilo usar sem respeitar, fugindo do olho doente dos organismos ambientais.

As florestas fazem parte de nossa vida, favorecendo a conservação das nascentes, protegendo as margens dos rios, aquecendo-nos com uso da lenha, servindo de energia para caldeiras e fornos em indústrias, nas cerâmicas de telhas e tijolos, na indústria de cosméticos, na fabricação de papel, como goma celulósica usada nos cremes dentais, na borracha usada em luvas, camisinhas, sapatos e pneus, além de servirem de pastagem para caprinos, ovinos e bovinos, e como pasto apícola. As florestas estão em nossas lembranças, desde o nascimento, com um bercinho, até na passagem desse mundo para outro.

Não deveríamos chorar por ver uma árvore tombar ao ser cortada, com isso estaremos renegando o seu uso em nossa vida. É uma hipocrisia ser contra o uso das florestas, não podemos viver sem uso dos serviços, bens, e dos produtos florestais que são tão importantes e presentes em nossa vida, e ao mesmo tempo distante de nossas cidades que chegamos a desconhecer o que usamos, e em dados momentos até condenamos o uso.

Usar é importante, contudo, é preciso conhecer, estudar e planejar esse uso. Atividade que se dá a partir do inventário florestal, uma atividade que consiste em medir, identificar, quantificar o volume, definir a estrutura e a fitossociologia (tipo e quantidade de plantas na estrutura florestal). Essas informações somada a dados da fauna, solo e clima, subsidiam a estruturar um plano de uso, denominado de plano de manejo florestal, um instrumento que considera o uso, de modo que ao concluir um ciclo, a floresta apresente o mesmo volume e estrutura.

Nosso Estado e sociedade precisam facilitar e financiar a atividade florestal de forma que possibilite o uso sustentável das florestas, desta forma, nosso crescimento dar-se-á sem maiores danos ambientais. Também é importante ampliar o conhecimento das espécies nativas, o seu comportamento, produção, efeitos associativos, necessidade nutricionais, edaficas, climáticas e dentre outros.

Um cultivo agrícola produz em geral de 3 a 6 meses, enquanto uma árvore pode levar de 4 a 30 anos para ser aproveitada. Quem vive para comer, tirando o pão a cada dia não tem como esperar, assim, o Estado tem importante papel no financiamento e custeio desse tipo de atividade de longo prazo.

A sociedade pode e deve buscar produtos oriundos de florestas manejadas e/ou plantadas, quebrando o paradigma de ver uma árvore no chão, fazer um estardalhaço e chorar, o choro só faz sentido ser for fruto de desmatamento, caso seja proveniente de floresta manejada ou cultivada não há por que, pois, as florestas compõem nosso desenvolvimento. Da mesma forma que uma manga é colhida, uma árvore pode e deve ser colhida e aproveitada seja sua madeira ou produtos, do contrário nosso crescimento para. Assim, os ministérios que cuidam de investimentos devem também estimular a atividade florestal ― do contrário ― as obras e as ações esbarrarão na falta de produtos florestais sustentáveis. Apesar de que na atualidade as diferentes cadeias produtivas não têm produtos sustentáveis em suficiência, estando às mesmas em desequilíbrio.

O uso devido gera emprego, renda, riqueza e distribui muito mais do que as empresas petrolíferas, sobretudo quando se maneja florestas, sem contar que as mesmas podem ser uma fonte inesgotável de produtos e possibilitam maior fixação de carbono a depender das práticas de manejo adotadas.

Cristiano Cardoso Gomes é Engenheiro Florestal e Licenciado em Ciências Agrícolas pela UFRPE e pós-graduando em Gestão de Projetos pela Faculdade Estácio de Sá, atua como consultor para ONGs, organismos internacionais e órgãos governamentais. E-mail: biomacaatinga{at}gmail.com

Fonte: EcoDebate, 03/09/2010

I Forum Umwelschutz

I Forum Umweltschutz - Proteção e Cuidado com o Meio Ambiente



Fonte: Sindimetal.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

“Economia verde, inclusiva e responsável: o caminho adiante para as empresas no século 21”, por Paulo Itacarambi*


Esta expressão reflete, mais que um modismo, o anseio mundial para que as empresas participem mais ativamente da solução dos problemas que afetam o planeta e põem em risco a própria existência da espécie humana. 

Para dar conta dessas demandas, é preciso entender que, para os negócios, o século 21 começou sob o signo de duas crises – a financeira e a climática –, que se abrem em múltiplas oportunidades, desde que a empresa esteja disposta a mudar a maneira de fazer negócio e, com isso, transformar também o mercado e a sociedade. 

Esta nova economia que vem surgindo tem tido várias denominações e, por isso, muitos chegam a se confundir. No entanto, há diferenças importantes. 

Um dos primeiros nomes a surgir na mídia foi o de “economia de baixo carbono”, associada às preocupações com os impactos das mudanças climáticas no planeta. Nesta visão, o esforço para capturar e reduzir emissões dos gases de efeito estufa (principalmente o gás carbônico) é entendido como prioridade número um. Por isso, em nível mundial, empresas e governos vêm sendo cobrados para que adotem inventários de emissões e ações para reduzir e até mesmo zerar o carbono. 

Ao refletir mais profundamente sobre o aquecimento global, no entanto, um segmento cada vez maior da sociedade vem se conscientizando de que capturar e reduzir não é suficiente. O planeta tem recursos limitados, finitos e alguns deles, imprescindíveis para a continuidade da espécie, estão praticamente esgotados ou escassos, como a água. Assim, não basta reduzir as emissões. É preciso também racionalizar o uso desses recursos, por meio de reciclagem, de desenvolvimento de alternativas etc. Além de gastar menos recursos naturais, precisamos também recuperá-los, mantê-los e valorizar os serviços que eles nos prestam, chamados de “serviços ambientais”. 

O que é, afinal, um serviço ambiental? É o nome “técnico” dado à capacidade que a natureza tem de regular o clima, fornecer água potável, solos férteis, florestas, ar limpo e biodiversidade. Estes serviços, até bem pouco tempo atrás, eram considerados “infinitos” e “autorrecuperáveis”, não havendo, portanto, a necessidade de preservá-los. A consciência de que são finitos e necessitam de “cuidados” para não cessarem fez surgir outra visão de economia, mais ampla que a de baixo carbono: a economia “verde”, que tem os limites do planeta como paradigma. Esta visão procura integrar os processos de produção aos serviços ambientais, valorizando estes últimos, preservando os ecossistemas, entendendo-os como a base material da produção, aumentando a ecoeficiência e respeitando os limites do planeta. 

As empresas já perceberam as incontáveis oportunidades abertas por este novo modo de lidar com a natureza e vão se posicionando com soluções e tecnologias de baixo impacto ambiental. 

Afinal, atender essa demanda da sociedade pode significar a substituição da maior parte dos produtos atuais e a reestruturação da quase totalidade do parque industrial em operação. 

No entanto, essa perspectiva ainda não é suficiente para a sustentabilidade. Ainda é preciso dar conta da distribuição mais equitativa da riqueza, aumentar a participação do trabalho em relação à riqueza gerada, desenvolver as comunidades e valorizar as atividades que não entram no PIB. É preciso também mudar as relações sociais, porque onde há desigualdade falta ética. 

Enfim, é preciso associar as dimensões sociais e éticas à tendência de crescimento da economia verde. Precisamos de uma “economia verde, inclusiva e responsável” para construir a sociedade sustentável que almejamos. Uma economia em que processos, produtos e serviços sejam desenhados para preservar a integridade ecológica do planeta e promover o desenvolvimento equilibrado das comunidades, bem como criar oportunidades de acesso a consumo, a renda e a direitos, num ambiente de confiança, diálogo e democracia. 

* Paulo Itacarambi é vice-presidente executivo do Instituto Ethos. 




Artigo publicado originalmente na edição de agosto de 2010 da revista Think & Love, produzida pela Repense Comunicação.